III

talvez no fim cheguemos à inconclusão

& já não haja nem princípio nem finalidade

eu ou outro

corpo ou mundo

só um lume

                   no universo disperso

II

talvez a pele não seja fronteira

mas a soleira para energias estrangeiras

na polução de possessões

todas transfigurações de um eu

que já não reconhece a si mesmo

um tal caleidoscópio amorfo de suas possibilidades

como quando abandonamos a estrada

& cravamos na mata veredas sem destino

sentindo

como vento

um esvanecimento

Sombras suspensas

I

talvez no fim

cheguemos ao início

num caos dissolvido

que pulsa todas forças dissolutas

em nossos impulsos mais espontâneos

momento em que a vista pesa

na praia & pairamos no sonho

ou somos uma colagem de ouvidos

absorvidos por uma música

ou latejamos soltos nos suores do sexo

ou nos fundimos à colina

em meio à fumaça de um baseado

ou quando suspendemos o tempo

numa boa conversa

& ficamos surpresos com a aurora

Chistes do improviso

Algazarras tossem suas farpas
                   
                      sem prazo de validade

 

enquanto maritacas fornicam algumas flâmulas
                                                    
                       nas alamedas da lua

daí gotejam orgasmos incandescentes

despencados no Titicaca


Um cravou no lago & logo foi chamado Amantani, em forma de garra felina em bote ao bocejo da noite    onde um tatu tarado atropelou alguns astros com seu velocípede ditirâmbico & escavou os orifícios do penhasco
por onde ecoa este mito
                                       nas arestas do salto

seus espasmos ainda podem ser ouvidos em conchas de mar

Parapeitos andarilhos

Nesta tarde paulistana de escafandristas uma folha despencou de seu pingente desencadeando o levante do mausoléu da memória que babava duas amizades de boteco salpicadas com polenta frita + a silueta de um camelo roendo o muro + rodopio etílico de passos desconexos foi então que me dei conta do quanto estamos absortos nos surtos do tempo.