segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Murmúrio matreiro

Calcei a relva
    

já não eram mais meus passos
 

mas lagartos escorrendo na mata
 

uma forma larga, esparsa
 

de olor fresco
 

um vento    não um corpo

 

tato: rugosidade do tronco
 

gosto: névoa da cascata
 

sentimento: fúria do salto
 

no olhar da ave de rapina


eis que a moita se move
 

era meu corpo  - em regresso
 

pulsando na medida do medo

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012


É por aí, querida....

Do lado de cá

nada exala os rumores do exílio

ou as ruínas de concreto por onde nadas
                                         em seus destroços

Em Walden, o humano em nós é tão precário

que o deixamos cair esquecido
                              
                              ao nos banhar na cachoeira


pairamos como frestas abertas
                                        a forças estrangeiras

que desmancham tão bem nosso corpo
              
                enquanto a água nem se movimenta
                  
                    em nosso mergulho

domingo, 19 de fevereiro de 2012



Os devaneios são a medida de nossa verdade inalcançável


Floriano Martins, Cinzas do Sol


OBS: Disponível (em espanhol):  


quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012


O Instante do transe*

Vultos, surtos & o ardil extático dos corpos em convulsão. Transe bacante silvando para além dos contornos... em um coletivo confuso que cantava a maré alta do delírio. Coribantes serpenteando até roçar o infinito. Era um ritual xamânico com seu urro que soletra precipícios na soleira do crepúsculo?
Ví crianças, jovens e velhos fundidos na idade da intensidade. Até os suntuosos pilares do edifício se lançaram ao chão para rodopiar nos movimentos dos astros que ali se eclipsaram.
Ora se ouvia o silêncio e o dilatar de dilúvios que vinham pousar em nossos ombros. Ora o alarido alado da nau de loucos urrava no ritmo virulento do êxtase.
E o feiticeiro sarcástico incendiava seu tambor com as garras felinas de quem rasga a realidade. Naquele mesmo salto em que brechas se abrem e jorram desvarios.
Ao fim do ritual recolho meus pedaços esparsos e, desesperado, tento recompor alguns passos que caibam no chão.

* texto livre sobre a experiência da Jam da Companhia J. Garcia Dança Contemporânea.


domingo, 12 de fevereiro de 2012


fusão a frio
              do teto que comprime meus pés

veias velejam nos arrabaldes

arrancar glossolalias aos tapas?

seringas dançam incertas & seus pulsos pululam sarcásticos

cáusticos telefones usurpam o caixa

E você me olha, como esperando que virasse a mesa

E você sempre alheia às visões descalças que penteia