quinta-feira, 30 de agosto de 2012


[após “Des-continuidades”, de Vera Sala.... teclado pulula desconcertado sem atrever conter o fluxo do corpo na palavra] 

domingo, 26 de agosto de 2012

PoemaCine

Sempre me intrigaram as relações entre poesia & cinema. Revendo a experiência do “poemecine” de Man Ray tive alguns lampejos.
Em L’Étoile de Mer  (1928), Ray dá livre curso às imagens oníricas do poema homônimo de Robert Desnos - que inclusive figura no filme como ator. Os versos filmados ganham uma visualidade muito diferente das letras estáticas impressas no papel. Sente-se a influência do roteiro para peça teatral La Place de l’etoile, de Desnos. O encontro insólito de personagens em devaneio inconsciente coaduna com o encontro entre poesia, teatro e cinema. Chama atenção o efeito de lente que Ray utiliza para assemelhar as imagens a pinturas em movimento.
É um poema-cinema não só por utilizar um poema como disparador. É poético pela irrupção de imagens ao acaso, despidas de qualquer foco narrativo convencional. É linguagem do inconsciente que transborda num fluxo incontido de associações inusitadas. O fato de grande parte do cinema atual se ater à narrativa linear e ao vaivém de tramas e personagens, o coloca muito próximo da linguagem da prosa.
E Ray não para por aí. São frequentes as esculturas em dança, deixando antever perspectivas inesperadas – especialmente no jogo de sombras que costuma utilizar. Outras vezes são sombras distorcidas e a dança veloz de objetos que dão efeitos vertiginosos – aqueles mesmos que Stan Brakhage iria trabalhar mais tarde, já com a efusão de cores, muito influenciado pelo amigo e poeta Michael McClure.
O que parecia impulsionar o experimentalismo do cinema de Ray é o escorrer de imagens em movimento, que permitiam relações inusitadas entre poesia, teatro, fotografia, pintura, escultura e dança. Se coloca todas linguagens em movimento também as retira dos redutos fechados da fragmentação das expressões artísticas em especialidades. O que importa é mesmo o potencial das imagens que desconhece os limites da expressão, conduzindo a uma combinação incandescente que revela novas possibilidades de criação.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012





[entre gravuras de Maringelli na Oficina Cultural Oswald de Andrade]

uma fenda

no vulto               do avesso

me escorre

feito escarro

feito porra

feito espuma (baba do breu)

& minha sombra me reconhece




sexta-feira, 17 de agosto de 2012





No momento em que toca Apocalipsom A, de Tom Zé, sinto estourarem uns quatro lilazes na garganta, ao ouvir: “E se você faz represália / Ela passa a mão na genitália / & esfrega na sua cara”. Sabe-se lá por que cargas d’água me vem num rodopio A Noite Estrelada, de Marcel Mariën & um gosto de carne mijada na boca. Posso sentir o cheiro de sexo entre letras movediças
                          ejaculadas de corpos em estardalhaço
              na encruzilhada dos cometas

segunda-feira, 13 de agosto de 2012


Cogumelos á la Ducasse

uma bigorna fresca fatiada + meia-dúzia de cogumelos Amanita Muscaria + 04 agoras + pitada de azuis + ácido a gosto -  tudo batido no liquidificador = monóculo de Marcel Marien

OBS: servido para dois ornitorrincos eunucos pode-se estabelecer a exata relação entre pedra filosofal, o acaso objetivo, os OVNIs, o fluido translinguístico de McKenna e alguns versos de Roberto Piva.

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Perguntaram-lhe, então, o significado da sigla IEP. Fulminou de bate pronto: “Instantâneo Êxtase Pagão”. Mas logo sentiu que poderia mesmo ser Instinto Extraterrestre de Procriação, ou até Instituto de Estudos do Parangolé. Logo lembrou, contudo, a pesquisa nacional do Índice de Escopofilia Perversa.... e jogou ainda com Ínfimos Espasmos do Patriarcado, Instáveis Estilhaços de Plantão, Istmos da Experiência Púbere & assim gozou um poema inteiro. Se a sigla diminui a expressão pode aumentar a imaginação.